sábado, 30 de janeiro de 2010

Lendo Isabel Allende

Estou lendo um livro maravilhoso da Isabel Allende chamado Paula.
O livro é uma auto-biografia, e a autora tem uma história bem...digamos...diferente.
Além disso, a maneira como ela escreve é deliciosa e as páginas quase escorregam. Eu entro de tal maneira no livro que é quase como se estivesse assistindo a um filme.
Mas bem, por isso, transcrevo uma parte que me chamou muita atenção. Ela fugiu com o amante da Venezuela para a Espanha, e o marido foi até lá buscá-la.
Segue:

"Disse adeus àquele amor proibido entre as àrvores do parque do Retiro, que despertava depois de um longo inverno, e tomei o avião para Caracas. O que aconteceu não importa, tudo vai se ajeitar, não falaremos mais nisso, disse Michael, e cumpriu sua palavra. Nos meses seguintes, quis falar com ele algumas vezes, mas não foi possível, acabávamos sempre evitando o assunto. Minha infidelidade ficou sem resolução, um sonho inconfessável suspenso como uma nuvem acima das nossas cabeças, e não fosse pelos insistentes telefonemas de Madri, seria capaz de considerá-la mais um produto da minha exaltada imaginação. Michael procurava paz e descanso quando vinha para casa, tinha uma necessidade desesperada de acreditar que nada mudara na sua vida amena, e que a mulher superara inteiramente aquele episódio de loucura.

A traição não tinha espaço na sua mentalidade, não entendia as nuances do que acontecera, achou que eu regressara com ele porque não amava mais o outro, acreditou que voltaríamos a ser o casal de antigamente e que o silêncio cicatrizaria as feridas. Contudo, nada voltou a ser como antes, alguma coisa se quebrara e isso não teria concerto. Eu me fechava no banheiro para chorar e gritar, e ele, no quarto, fingia ler o jornal para não ter que ia averiguar a causa do pranto. Sofri outro acidente sério de carro, mas desta vez consegui me dar conta de que, numa fração de segundo antes do impacto, pisara fundo no acelerador em vez de pisar no freio."

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