sábado, 29 de agosto de 2009

Montanha-Russa

Cheguei ao parque e vi aquela montanha-russa gigantesca. Virei pra minha prima e perguntei: "E ai, vai ter coragem?" Ela riu, nervosa e disse: "Claaaro".

Fomos pra fila. Pude observar vários rostos apreensivos. Algumas pessoas estavam nervosas, e outras riam delas. Mas, por mais medo que sentissem, ninguém queria passar a vergonha de voltar pela fila. Ninguém queria desistir. Na realidade, não sei o que motiva as pessoas a fazer algo da qual elas sentem medo, às vezes pânico, só por diversão. Adrenalina? Sei lá.

Quando estava quase na nossa vez, decidimos ir no primeiro carrinho. Achamos que ia ser mais emocionante. A catraca abriu e entramos. Sentamos no banco, uma ao lado da outra. Por ser daquelas invertidas, meus pés ficaram balançando no ar. Olhei pra baixo e vi uma fina estrutura metálica. Era cinza e toda furadinha.

Fiquei nervosa. Dar loopings com os pés soltos pra cima era algo que eu não queria imaginar...Veio a monitora do parque conferir se estava tudo certo no nosso carrinho. Ela baixou a barra de proteção muito apertada. Mas vi o percurso da Montaha-russa e concluí que era melhor estar apertada mesmo..

Foi então que minha prima perguntou pra monitora:
-"Você já andou aqui na Montanha-russa?"
E ela respondeu com a maior voz de tédio possível:
-"110 vezes"
Juro que neste momento pensei em quais motivos levariam alguém a andar 110 vezes no mesmo brinquedo e não consegui pensar em nenhum...

Ela se afastou e o carrinho começou a andar. TEC TEC TEC TEC.." ok, é só a subida"...." o problema vai ser quando começar a descer"... Sinto em informar que depois do TEC TEC TEC da subida não lembro de nada muito precisamente...lembro que era rápido, que minha cabeça parecia uma bolinha de ping-pong batendo nas barras de proteção, e que eu gritava mais porquê estava doendo do que pela emoção. Lembro do looping, no qual as minhas pernas quase dobraram ao contrário. E lembro precisamente da minha prima gritando na minha orelha, o que não me permitia raciocinar direito.

Lembro que logo depois que a velocidade parou o silêncio momentâneo foi instaurado, seguido de risadas nervosas e até meio desesperadas...O carrinho seguiu e parou em cima da estrutura metálica cinza... Vi rostos ansiosos por sua vez de ter emoção...As barras de proteção se soltaram e eu desci. Eu e minha prima nos olhamos e sorrimos, com a certeza de que a outra estava pensando a mesma coisa.
Aí entramos na fila de novo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Em um campeonato de Judô qualquer

Visto a camiseta, coloco a calça do quimono, e entro no ginásio. Há tempos não entrava em um lugar tão cheio. Cada lugar na arquibancada está tomado. Sinto o cheiro de campeonato no ar, e por incrível que pareça isso me acalma.

Respiro fundo. Coloco o casaco do quimono com cuidado e amarro a faixa de maneira caprichosa, mesmo sem prestar muita atenção. É a minha estreia com a faixa marrom. Sinto-me ansiosa. Tento prestar atenção na área 1, onde está tendo uma luta entre 2 garotos, mas não consigo. Páro pra escutar o que o locutor está dizendo e me dou conta de que logo será minha luta.

Então escuto. "Próxima luta na área 2, Luíza Fregapani - IEE com a faixa vermelha e Juliana Silvera -SKD". Minha mãe diz algo que eu não consigo entender, mas concordo com a cabeça. Vou andando em direção a área 2, devagar. Sinto um leve tremor na mão esquerda. Várias pessoas dizem: "Vai lá!" "Boa luta" e eu só sorrio pra elas. Minhas palavras não fariam sentido se eu tentasse responder em voz alta.

Chego e paro ao lado do juiz, que pergunta se eu sou a Luíza. Respondo afirmativamente com a cabeça e espero que ele me chame para entrar no Tatame. Então, eu respiro fundo e me concentro. Sinto todo o meu corpo. Respiro de novo, prestando atenção em cada detalhe. Pulo no lugar algumas vezes, até sentir um alívio momentâneo. Minhas pernas começam a ficar firmes. Sinto meus braços fortes. Percebo que estou abrindo e fechando as mãos para aliviar a tensão. Respiro novamente.

Me concentro mais. Desta vez vejo meus pensamentos. Fecho os olhos e imagino a luta. Imagino a minha adversária. Vejo seus passos, seus movimentos e a minha resposta a eles. Preparo dois ou três golpes. Penso nos contra-golpes. Sinto os movimentos que devem ser feitos e condiciono meu corpo a fazê-los. Parece que estou assistindo a um filme.

O juiz chama. Cumprimento para entrar no tatame e amarro a faixa vermelha, marca do primeiro lutador a ser chamado para a luta. Respiro novamente, a fim de manter os movimentos claros na minha cabeça. Olho para a minha adversária nos olhos. Ela está séria e não me olha. Parece concentrada também.

O juiz faz sinal para nos aproximarmos e nos cumprimentarmos. "Hájime" grita ele. Aproximo-me dela e seguro firme com a mão direita na gola. Ela faz o mesmo na minha. Damos uma meia volta. Ela vira agilmente e entra um Koshi Guruma. Seguro-a pelo quadril e saio do golpe. Sinto-me ficando tensa. Aproximo-me e entro o Ô-Uti-Gari, mas ela tira a perna. Damos mais uma volta, ela tenta um Seoi-Nague. Eu giro o corpo e tento o contra-golpe. Ela joga o corpo na direção oposta e fica de frente pra mim. Movimentamos um pouco pelo tatame, tentando observar os movimentos uma da outra.

Respiro fundo e lembro-me dos movimentos que tinha imaginado. De repente tudo para. Não escuto mais nenhum barulho. Parece haver apenas nós duas no universo. Rapidamente troco a pegada da gola para a mão esquerda. Neste momento vejo tudo em câmera lenta. Ela fica confusa e demora 1 segundo pra trocar também. Aproveito o momento. Puxo-a para perto de mim, enquanto giro o corpo. Em seguida flexiono de leve os joelhos, encaixo o quadril e entro o golpe. Mal tenho tempo de sentir o corpo dela nas minhas costas antes de jogá-la e vê-la deitada no chão.

"Ippon, Soromadê" diz o juiz. Acabou. Respiro novamente, estendo a mão para ajudá-la a levantar. Volto a enxergar o ginásio, as pessoas. o barulho agora parece ensurdecedor. Cumprimento-a pela luta, e cumprimento novamente antes de deixar o tatame.
Sinto um alívio a medida que a endorfina toma conta de mim e sorrio, com uma das melhores sensações do mundo: Aquela que só os vencedores conhecem.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

O baú

Todos temos um baú cheio de tralhas velhas. Lembranças, coisas que aconteceram, pessoas que passaram, angústias, sonhos, pensamentos. Tudo que fazemos, seja bom ou ruim, acaba indo parar neste Baú.

Então, um belo dia, resolvemos abrir este baú pra ver o que tem dentro. Algumas pessoas lidam bem com isto, outras não. Às vezes, encontramos coisas que nos fazem sorrir. Outras vezes, encontramos coisas que nos fizeram sofrer, e que ainda fazem.

Em geral, eu não abro o baú se não estou preparada para encarar tudo que vai sair lá. Às vezes dou um tempo, espero o tempo passar e as coisas esfriarem. Ai sim, posso abrir e jogar fora aquilo que me faz mal ou aquilo que não quero mais. Muitas vezes acontece de eu me considerar preparada para abrir o baú, quando na verdade não estou. Aí eu sofro e fico triste, pois não esperei o suficiente e o que era pra ser algo bom, torna-se algo ruim.

Mas este aprendizado é algo que vem com o tempo. Não iremos aprender de uma hora pra outra. O mais importante é aprendermos que não faz sentido guardarmos coisas que nos fazem mal e nos envenenam, se o melhor a fazer é jogar tudo fora e abrir espaço guardar as coisas boas. Pois afinal, os baús são utilizados somente para guardar tesouros.

domingo, 23 de agosto de 2009

O Tempo

O tempo é algo extremamente relativo.
Quando somos crianças, o tempo demora muito mais tempo pra passar. Cada ano escolar é quase um século. O aniversário demora, o Natal não chega, e a Páscoa é um evento remoto...
Meu irmão tem a seguinte teoria. Quando temos 1 ano de idade, aquele um ano representa toda a nossa vida. Ou seja, tudo que aprendemos até então foi naquele ano.

Quando temos 4 anos, um ano representa 1/4 da nossa vida.
Quando temos 20 anos, um ano representa 1/20 da nossa vida. Já é uma fração bem menor. Confundimos as datas (aquilo foi neste ano ou no ano passado?) e por causa da faculdade, temos o antigo ano escolar dividido em 2 semestres. Quando vemos já é virada de ano e nem nos organizamos para realizar os propósitos do ano passado, o semestre começou e já está acabando e os anos passam sem maiores delongas.

Por exemplo. Hj é dia 23 de agosto. Logo vem 7 de setembro, dia das crianças, finados (ai já é fim do semestre), dia da independência, acabam as aulas e temos o Natal, o ano-novo (ai já é ano que vem), o Carnaval, a volta às aulas (ai já é semestre que vem...).

Por isso, não adianta passar pela vida sem aproveitar. Acredito que devemos tirar férias um pouquinho todos os dias, pois elas demoram pra chegar, e quando chegam, acabam antes que possamos nos dar conta. Quantas vezes deixamos pra amanhã, e este dia nunca chega? Além de ser construída com as coisas que fazemos, a vida é construída também com as coisas que deixamos de fazer.
"Por que passar pela vida sem ser notada?" Aquamarine Movie.

sábado, 22 de agosto de 2009

Pré primeiro encontro

Estou me arrumando para sair com meu novo pretendente. Ele passa aqui em 38 minutos. Eu o conheci em um jantar de amigos em comum. E após, alguns dias, ele finalmente ligou e aceitei um convite para ir à Opera.

25 minutos: Estou ansiosa. Quero muito que ele goste de mim. Mas não sei do que ele gosta, ou quem ele espera que eu seja. 13 minutos: A temperatura do meu corpo está aumentando. Quer saber, por um lado é bom, já que o vestido fica melhor sem casaco.

8 minutos: Estou doida pra fazer uns abdominais pra liberar esta energia acumulada, mas pode estragar a maquiagem, ou sei lá! Aliás, com esta energia toda juro que poderia correr uma maratona inteira! 5 minutos: e se ele não gostar do vestido? Será que devo trocá-lo?

1 minuto: ele ligou. Não creio! Ele se perdeu. Tá, eu sei que moro num lugar escondido, não deve ser desculpa furada!!! Tudo bem, respira fundo que vai dar tudo certo!!!
Ó céus, tem alguém batendo na porta!!!! Ele chegou.

Tá, não era ele, era o cara da pizza. Pro vizinho. Como alguém não sabe ler o número da casa??? Eles deveriam fazer um processo seletivo mais exigente para entregador de pizza.

Ai, meu celular está tocando!!! Agora é ele!!!! Ele chegou! Ok, ok, take it easy!!! Checo novamente minha roupa, minha maquiagem, pego minha bolsa e saio correndo escada a baixo, o que me rende um quase tombo. Chego na sala. Droga, cadê a chave da porta? Ah sim, no porta-chaves!

Abro a porta, digo boa noite e sorrio. Então páro, estarrecida e absolutamente hipnotizada por seus olhos e seu sorriso. Então, após alguns milésimos de silêncio, ele pergunta:
"Vamos?"
E por não conseguir responder nada, aceno que sim com a cabeça, ando ao seu lado até o carro e espero ele abrir a porta.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

17 maneiras inusitadas de se conhecer um grande amor

1- Perguntar as horas para alguém no ponto de ônibus.
2- Esbarrar em um cara lindo no supermercado e vocês se apaixonarem à primeira vista.
3- Estar no mesmo supermercado, e ao mesmo tempo estender a mão para pegar a mesma coisa que ele (este é o sonho de uma amiga!).
4- Ser relocada diversas vezes de lugar num avião e, por acaso, parar do lado da equipe brasileira masculina de algum esporte.
5- Estar no metrô, e por acaso, virar para olhar para alguém ao mesmo tempo que esta pessoa vira para olhar você (olha, esta foi com os pais de uma amiga!)
6- Ir em um baile dançante do clube (Papai e Mamãe).
7- Ir na reunião do condomínio do seu pai com ele. (aconteceu com uma prima minha).
8- Fila do Xerox ( foi só amizade, mas vai que fosse amor?).
9- Passar pela frente de uma escola de música e se apaixonar pela voz de alguém lá dentro (Vovô e Vovó).
10- Parar para pedir informações.
11- Ser atropelada (muitas chances: o cara que te atropelou, o bombeiro que socorreu, o médico de plantão...).
12- Reparar se as pessoas são canhotas ou não. 13- Entrar em uma loja e o vendedor perguntar: "A gente por acaso não se viu por aí ?" e você cair na dele (esta foi comigo!).
14- Frequentar um grupo de jovens (Conheço algumas histórias do tipo !!!).
15- Andar de elevador (vai que vc fica presa e rola um papo...).
16- Ter um amigo de infância (isso sempre acontece nos filmes!).
17- Ir passar férias na casa da avó e conhecer o vizinho! (Vovô e Vovó também, desta vez do outro lado da família).
Resumindo, quando você menos espera, acontece. Não dá pra prever quando nem onde. E se desse, qual seria a graça?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Universo Paralelo

Eu tenho a teoria de que existe um universo paralelo. Um universo pra onde vai tudo aquilo que perdemos. Não só objetos, como o meu vestido rosa, o meu livro "As boas mulheres da China" e o meu óculos escuro, mas todos os sonhos que temos e não lembramos, todas as vontades frustradas, todos aqueles sorrisos, olhares e palavras que ficaram no ar. Tudo aquilo que podia ter sido e não foi, todos aqueles segundos que antecedem o não agir, o não falar, o não medir. Todo o tempo que ficamos na dúvida, todas as situações em que deveríamos ter dito e não dissemos, o tempo que passou e o que ainda não passou. E eu tenho esta teoria pois já passei por momentos em que o universo paralelo se abriu de maneira tão clara que só podia ser real. Mesmo que por poucos segundos, senti que tudo podia ser diferente e que eu poderia mudar, não só os momentos que já passaram, mas aqueles que ainda estão por vir.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

The flash and the honor

Gay Talese is one of the most famous Journalist in the world. He is a reference name of the "New Journalism", one way of writing with a dead line bigger than usual. It´s a way of telling notices almost like literature, just chasing some different aspects of the real fact. As he said, "I wanted to be a journalist without writing notices, I wanted to be a fiction writer writing non-fiction". Foo exemple, during a Boxe fight, Talese would write about the guy who rings the bell, the mother of the fighter who was blooding and people who is watching. Why not about the winner? Cause everybody could do it.

Gay Talese made a very nice profile of Frank Sinatra. He didn´t talk with Frank Sinatra himself, but he talked with a lot of people that meet Sinatra, everybody in a different way. "He didn´t want to talk to me, and I didn´t want to talk with him" said Talese. He describes a scene in the bar, where the singer is with two blond girls, and after write down one dialogue, betwen Sinatra and the writer But Ellison, very bad to Sinatra´s image, actually.

I meet Gay Talese at FLIP (International Literature Festival in Paraty - Brazil). He is an old man in age, but looks very young walking thrue peolpe with a pen in the right hand, read to sign his name is books and talk with fans. He is a very well dressed man, with his panama hat and dark blue suit. Talese and his hat were very easy to see at FLIP, cause he was participating of a lot of events.

I meet him during one of this events (sorry, I really don´t remember what author was talking in this event!) .
I saw him and he was alone. I decided run until him, before somebody else did it. So I walked til him, taked a deeply breath and said:
- "Hi, Mister Talese"
He turned to see who was talking and said:
-Yes?
- Can you please sign my book? It´s a great honor to meet you.
He looked into my eyes and said:
- It´s my honor young lady.
I was so happy! Just like a child caring a very special gift. At this moment, my friends get closer and one of them said:
- "Can we please take a picture with you?"
So, he just smiled and waited for the flash.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Barca dos livros

“A margem da página, é a margem do mar, de imagem e mágica, onde essa barca vai nos levar. Lá vem a barca dos livros, carregada de tesouros, quem embarca num bom livro, fica livre fica vivo.” Com essa música começa o passeio da Barca dos Livros.

O projeto, que foi idealizado no ano 2000, realiza passeios de barcos com contação de histórias. Ocorre uma vez por mês na Lagoa da Conceição, dura em média 50 minutos e traz música, histórias e coloca livros a disposição das crianças.

A idéia surgiu com Tânia Piacentini, que por ser consultora da Fundação Nacional do livro Infantil e Juvenil, recebia em média 800 livros por ano e precisava dar um destino social ao material. Quando constatado que em Florianópolis só existiam duas bibliotecas, a biblioteca pública estadual no centro da cidade e a municipal no Estreito, a Sociedade Amantes da Leitura criou a Biblioteca Barca dos livros, na Lagoa da Conceição.

A Sociedade Amantes da Leitura é uma ONG, idealizada por pessoas que tem em comum o gosto pela leitura. A ONG realiza projetos como a Biblioteca Barca dos Livros, que em 2007 ganhou um prêmio na categoria de melhor projeto de incentivo a leitura do país e os passeios de barca com os contadores de história. “Para as crianças é um exercício de imaginação transformar a palavra em imagem. Tanto ler quanto ouvir histórias exige isso”, expõe Gilka Girardello, uma das contadoras de histórias do projeto.

A biblioteca, que no mês de abril recebeu 1050 pessoas de toda a grande Florianópolis, empresta livros de literatura para sócios de todas as idades. Dentro da biblioteca, existem projetos para adultos, como as aulas de contação de histórias e cursos de leitura em voz alta.

"A importância de uma Biblioteca é oferecer a população a oportunidade de ler gratuitamente. Quem lê, têm muito mais chances de fazer a sua inclusão na sociedade, e a biblioteca visa formar leitores de todas as idades.” completa Tânia Piacentini. Para incentivar a leitura de seus alunos, diversas escolas públicas e particulares levam seus alunos à Barca, e estas visitas à biblioteca são um incentivo a mais para que os alunos adquiram o hábito da leitura.

Mais informações http://www.amantesdaleitura.org/

domingo, 16 de agosto de 2009

Seja bem - vindo, mas não se esqueça de ir embora

Trânsito, falta de água e praias lotadas são alguns dos motivos para a aversão que os moradores de Floripa têm a turistas.

Haole é uma expressão usada no Havaí para designar de maneira pejorativa aqueles que vêm de fora do arquipélago, expressão esta que também é utilizada aqui na ilha. Segundo Flávio Vidigal, no Havaí, foi criada para expressar o descontentamento dos nativos quando anexado como estado norte-americano. Em Floripa, é usada para designar qualquer pessoa que não seja nativa, na frase “Fora Haole”, facilmente encontrada pichada em muros e no vocabulário de alguns moradores.

Segundo dados da Santur, Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina, a passagem estimada de turistas no estado em janeiro e fevereiro de 2008 foi de (4,3 milhões) pessoas. Destes, 34,17% eram do próprio estado, 25,55% do Paraná, 20,51% do Rio Grande do Sul e 11,96 de São Paulo.

Florianópolis é uma cidade turística que atrai visitantes, não só do país, como do mundo todo. Durante a alta temporada o fluxo de carros aumenta, não há abastecimento suficiente de água, os preços sobem drasticamente, as praias ficam lotadas, e uma das coisas que mais se escuta é sotaque de pessoas de fora. Por estes e outros motivos, não são raras as reclamações a respeito dos turistas.

Algo que incomoda o ilhéu é sentir-se visitante em sua própria cidade. Os turistas vêm passear e trazem consigo seus hábitos, suas gírias e seus palavreados típicos. Quem nunca viu um grupo de gaúchos tomando chimarrão na praia e falando “mas, bah tchê!” ? Ou um grupo de argentinos jogando bocha ou padel, aquele jogo parecido com o tênis? Ou carros com placa de fora que quase atropelam os pedestres mais desavisados que estão acostumados com motoristas que param na faixa de segurança? Como são muitos turistas, vindos de lugares diferentes, os moradores sentem uma mudança na ordem da cidade.

Em geral, os moradores da ilha não se queixam da quantidade de turistas, mas sim daqueles que resolvem ficar por aqui depois das férias. Isso é uma prática relativamente comum, já que, muitos daqueles que conhecem a cidade, encantam-se e não querem mais ir embora. Atualmente, temos um número muito elevado de pessoas vindas de outros estados que fixam residência na cidade. Segundo dados do IBGE, no censo de 2000 Florianópolis tinha 342.315 habitantes, hoje, são 396.723.Foi um aumento populacional de quase 16%, em pouco menos de 10 anos.

Pedro Augusto Kuhnen, aluno de Jornalismo da Unisul, realizou em 2008 uma pesquisa sobre a xenofobia na capital catarinense, com o objetivo de identificar as características do sentimento xenófobo em Florianópolis. Xenofobia é a aversão natural do ser humano em relação àquilo que julga diferente. Apesar de ser a definição correta, é usada como referência a qualquer forma de preconceito, como racial, cultural, religioso ou outro.

A pesquisa sobre o movimento xenófobo em Florianópolis teve 71 entrevistados para a sua coleta de dados. Do total, 43 eram pessoas vindas de fora e 16 relataram ter sofrido ou conhecer alguém que tenha sofrido algum tipo de hostilidade na cidade. Os casos mais citados foram violência física, danos matérias e violência moral. Em sua maioria, foram acusados de ocupar vagas de estudo ou trabalho, as quais os agressores julgavam ter direito. Segundo a pesquisa, praias, colégios e universidades foram identificados como os locais com mais casos de hostilidade em relação às pessoas de fora.

Rita de Cássia Silva, nascida em Florianópolis nos anos 50, mas de origem tradicionalmente gaúcha, diz que em sua família foram mantidos os hábitos, cultura e sotaque gaúcho, a tal ponto que até hoje é questionada quanto a sua origem. Acredita que há sim certa resistência dos novos moradores em aderir aos costumes ilhéus em detrimento dos trazidos de suas cidades.

Procurando em comunidades do Orkut relacionadas ao tema, encontram-se “Ainda vou morar em Floripa”, com 27.116 membros e “Diga não à xenofobia”, com 15.183 membros. Porém, existe um sem número de comunidades “Fora Haole Floripa”, e variantes, como “Fora Haole Joaquina”, todas com uma quantidade baixa de participantes, mas que utilizam vocabulário muito agressivo no seu posicionamento contra turistas.

A xenofobia em Florianópolis está presente em várias discussões. Em uma delas, um não- nativo acredita que o sentimento se dá pelo medo da ocupação desordenada e perda da qualidade de vida por parte dos moradores da cidade. Outro entrevistado diz que o nome do movimento não deveria ser “Fora Haole”, mas sim “Fora turista mal educado e folgado”, pois acredita que é a atitude do turista que incomoda os moradores locais, e não o fato de virem de outras cidades.

Florianópolis foi considerada uma das cidades turísticas mais procuradas neste verão, e é natural que as pessoas queiram morar aqui depois das férias. Aron Lobo, de 20 anos, diz que há certo receio dos moradores em relação à perda da cultura local, e a destruição do ambiente.

Bruno Bastos Venâncio, professor de Judô, natural de Florianópolis, diz não ter nada contra turistas desde que eles voltem para suas cidades de origem após as férias. Acredita que a cidade está um caos, por causa do crescimento desordenado, e que já não há espaço para mais ninguém. Ressalta também que “manézinho já é coisa rara por aqui”.

* Para deixar claro, este post não representa a minha opinião, ok? Foi uma matéria escrita para o Zero, Jornal Laboratório do Jornalismo da UFSC. Além disso, nasci no Mato Grosso do Sul, portanto sou "haole" também;

sábado, 15 de agosto de 2009

Nostalgia

Estamos na estrada. A direção é do norte para o sul, e o meu Ipod tem as músicas de trás pra frente.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Freakonomics - Economia para curiosos


“O moralismo representa a forma como as pessoas gostariam que o mundo funcionasse, enquanto a economia representa a forma como ele realmente funciona. A economia é, acima de tudo, uma ciência feita para medir. Possui um conjunto incrivelmente eficiente e flexível de ferramentas, que também podem ser utilizadas com relação a temas mais...ora, mais interessantes” (Pág. 15).

Logo nas primeiras páginas descobre-se que este não é um livro comum de economia. Temas mais interessantes? O que os autores quiseram dizer com isso? Quiseram dizer ao leitor que iriam abordar assuntos comuns, e até mesmo batidos, mas por meio de ângulos até então inexplorados, o que sacudiria a certeza que tínhamos adquirido do senso comum por meio de osmose. Freakonomics é isso, economia excêntrica para a tradutora, e bizarra, se traduzida com outra palavra.

As histórias contadas no livro não costumam fazer parte das aulas de economia, e segundo o autor, isso se dá pelo fato de que foram utilizadas ferramentas da economia para analisar toda e qualquer idéia de situação excêntrica que viesse a sua mente. Essa é outra justificativa para não haver um tema centralizador no livro, como estamos acostumados. Afinal, qual é a graça de lermos sobre histórias com início, meio e fim, e cujo final podemos prever?

Steven Levitt recebeu recentemente a medalha John Bates Clark, concedida ao melhor economista americano que tenha menos de 40 anos. Apesar disso, não se considera economista, e diz não gostar de matemática. É neste ponto em que o autor nos convence de que existe sim um lado da economia diferente do que estamos acostumados. E esta é uma idéia que se transforma em verdade ao longo do livro.

Já Stephen Dubner, co-autor da publicação, trabalha para o The New York Times e escreve sobre temas que variam de esportes (tema do seu livro Confessions of a Hero-Worshiper) a política. Pelos artigos que escreve, demonstra ser alguém tão curioso como Levitt, o que resultou na parceria para produzir Freakonomics.

No livro, cada assunto é relacionado com outro totalmente diferente (“ o quê os professores têm em comum com os lutadores de sumô?”), pelo menos para mentes leigas e despreparadas. Levitt trata dos mais variados assuntos, e mostra que eles têm algo em comum. O objetivo é mostrar que o mundo é composto por situações entrelaçadas, que influenciam umas as outras, mesmo que ninguém se dê conta.

Um exemplo dado é o caso Roe x Wade, processo que levou à liberação do aborto nos Estados Unidos no início dos anos 80, e que, segundo o autor, influenciou a queda da criminalidade no país, lá pela metade da década seguinte. Porém, nas pesquisas de causa e efeito, esta possibilidade de causa não foi citada nem uma vez. As situações para as quais o senso comum apontava eram: Estratégias policiais inovadoras, crescente confiança nas prisões, leis mais rígidas de controle de armas, número maior de policiais e melhora na situação econômica.

Para o autor, nenhuma destas justificava realmente a queda de mais de 40% no índice de criminalidade em apenas poucos anos. Para comprovar sua teoria, comparou o número de crimes violentos entre estados em que o aborto era permitido e outros em que não o era. As taxas de diminuição drástica deram - se naqueles estados em que o aborto era legalizado. O mais interessante, porém, é que o autor não traz seus resultados como verdades absolutas, e nem entra na parte moral da questão. Ele deixa bem claro que em nenhum momento aprova ou incentiva o aborto como forma de combater a violência. Ele só mostra que esta é uma possível justificativa para o que ocorreu nos Estados Unidos na década de 90.

Chega-se ao final de cada capítulo com uma visão diferente da que tinha no início. Se não mudou de idéia, passou a analisar a situação com outros olhos, como se alguém tivesse tirado uma venda do seu rosto, e agora pudesse enxergar várias outras possibilidades que até então não tinha sequer parado pra pensar.

Em outro momento, é analisado até que ponto o nome influencia em quem a pessoa vai se tornar. Compara os dois irmão, Winner e Loser Lane. Se o primeiro com este nome não tinha como dar errado, o que esperar do segundo? Em geral, os pais escolhem o nome de seus filhos de acordo com as expectativas que tem daquela criança. O que esperam que ela seja, ou melhor, quem esperam que ela seja.

O nome tem toda uma mágica envolvida, e pode ser escolhido inspirado por alguém famoso, ou importante e determina o que será daquela criança no futuro, certo? Não. Errado. O nome nada mais é que um indicador da origem da criança e da escolaridade de seus pais. Mostra que o nome que a criança carrega não mostra quem ela será no futuro, mas mostra de onde ela veio, como um marca de origem.

Por exemplo: Alguém é pobre porque tem o nome escrito errado, ou tem o nome escrito errado porque é pobre? Quantos nomes importados de língua estrangeira que são escritos de maneira totalmente diferente do original? Braian ao invés de Brian? Estefani ao invés de Stephanie? Ambos os exemplos mostram como o nome e a sua grafia são indicativos da classe social a que pertence à criança e também a escolaridade dos pais.

Voltando a Winner e Loser, o primeiro, aos 40 anos, tem uma extensa ficha criminal, sendo quase 40 prisões por assalto, assassinato, violência doméstica, invasão e resistência à prisão. Já o segundo, formou-se na Universidade Lafayette na Pensilvânia, entrou para o Departamento de Polícia e chegou a Sargento. Para o autor, o pai deve ter confundido o destino dos dois quando os batizou, senão jamais escolheria estes nomes.

Estes são apenas exemplos pontuais da riqueza do livro Freakonomics, que nos faz pensar, como o subtítulo diz, no lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Calvin e Haroldo


Os viciados em história em quadrinhos já conhecem, mas não canso de recomendar.
Calvin é um garoto de aproximadamente 6 anos de idade extremamente hiperativo, curioso e criativo que quase enlouquece seus pais. Aparentemente bons pais, mas que não conseguem entender o universo de Calvin, e por isso não o compreendem.
Seu fiel companheiro de aventuras, Haroldo, é um tigre de pelúcia sarcástico, que sempre topa as presepadas. É, muitas vezes, mais esperto que Calvin e é em quem o garoto sempre coloca a culpa pelas coisas que apronta: "Eu não estava pulando na cama pai, era o Haroldo!".
Porém Haroldo só interage com o Calvin. Quando há adultos por perto, Haroldo é simplesmente um tigre de pelúcia, o quê mostra que ele é realmente fruto da imaginação do garoto, e talvez por isso o único que o compreenda. Calvin foi batizado em homenagem a João Calvino (Jean Cauvin em Francês), que foi um teólogo protestante do Século XVI, criador do Calvinismo. Haroldo (Hobbes em Inglês), tem este nome graças a Thomas Hobbes, um filósofo inglês do Século XVII.
Os dois personagens filosofam sobre a vida, o mundo e as relações humanas, tudo isso por meio do visão de uma criança, que por mais amalucada que seja, dá-nos diversas lições de moral. E talvez os nomes, por serem homenagem a dois personagens que influenciaram a história e o mundo como conhecemos, reflitam a diferença que estes dois amigos fizeram no mundo das HQ´s.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Sexta-feira

O despertador tocou às 7h. Decidiu dormir um pouco mais. Tocou de novo. Levantou-se. O mundo lá fora parecia frio. O cheiro do café causou-lhe prazer. Saiu para trabalhar consciente de que teria um dia cheio. Andou pelas ruas. As flores roxas do Ipê em constraste com o céu azul o fizeram sorrir. Pensou em como andar fazia bem para os ânimos. Chegou ao prédio. Foi invadido por uma alegria repentina. Lembrou-se de que era sexta-feira.