domingo, 16 de agosto de 2009

Seja bem - vindo, mas não se esqueça de ir embora

Trânsito, falta de água e praias lotadas são alguns dos motivos para a aversão que os moradores de Floripa têm a turistas.

Haole é uma expressão usada no Havaí para designar de maneira pejorativa aqueles que vêm de fora do arquipélago, expressão esta que também é utilizada aqui na ilha. Segundo Flávio Vidigal, no Havaí, foi criada para expressar o descontentamento dos nativos quando anexado como estado norte-americano. Em Floripa, é usada para designar qualquer pessoa que não seja nativa, na frase “Fora Haole”, facilmente encontrada pichada em muros e no vocabulário de alguns moradores.

Segundo dados da Santur, Secretaria de Estado de Turismo, Cultura e Esporte de Santa Catarina, a passagem estimada de turistas no estado em janeiro e fevereiro de 2008 foi de (4,3 milhões) pessoas. Destes, 34,17% eram do próprio estado, 25,55% do Paraná, 20,51% do Rio Grande do Sul e 11,96 de São Paulo.

Florianópolis é uma cidade turística que atrai visitantes, não só do país, como do mundo todo. Durante a alta temporada o fluxo de carros aumenta, não há abastecimento suficiente de água, os preços sobem drasticamente, as praias ficam lotadas, e uma das coisas que mais se escuta é sotaque de pessoas de fora. Por estes e outros motivos, não são raras as reclamações a respeito dos turistas.

Algo que incomoda o ilhéu é sentir-se visitante em sua própria cidade. Os turistas vêm passear e trazem consigo seus hábitos, suas gírias e seus palavreados típicos. Quem nunca viu um grupo de gaúchos tomando chimarrão na praia e falando “mas, bah tchê!” ? Ou um grupo de argentinos jogando bocha ou padel, aquele jogo parecido com o tênis? Ou carros com placa de fora que quase atropelam os pedestres mais desavisados que estão acostumados com motoristas que param na faixa de segurança? Como são muitos turistas, vindos de lugares diferentes, os moradores sentem uma mudança na ordem da cidade.

Em geral, os moradores da ilha não se queixam da quantidade de turistas, mas sim daqueles que resolvem ficar por aqui depois das férias. Isso é uma prática relativamente comum, já que, muitos daqueles que conhecem a cidade, encantam-se e não querem mais ir embora. Atualmente, temos um número muito elevado de pessoas vindas de outros estados que fixam residência na cidade. Segundo dados do IBGE, no censo de 2000 Florianópolis tinha 342.315 habitantes, hoje, são 396.723.Foi um aumento populacional de quase 16%, em pouco menos de 10 anos.

Pedro Augusto Kuhnen, aluno de Jornalismo da Unisul, realizou em 2008 uma pesquisa sobre a xenofobia na capital catarinense, com o objetivo de identificar as características do sentimento xenófobo em Florianópolis. Xenofobia é a aversão natural do ser humano em relação àquilo que julga diferente. Apesar de ser a definição correta, é usada como referência a qualquer forma de preconceito, como racial, cultural, religioso ou outro.

A pesquisa sobre o movimento xenófobo em Florianópolis teve 71 entrevistados para a sua coleta de dados. Do total, 43 eram pessoas vindas de fora e 16 relataram ter sofrido ou conhecer alguém que tenha sofrido algum tipo de hostilidade na cidade. Os casos mais citados foram violência física, danos matérias e violência moral. Em sua maioria, foram acusados de ocupar vagas de estudo ou trabalho, as quais os agressores julgavam ter direito. Segundo a pesquisa, praias, colégios e universidades foram identificados como os locais com mais casos de hostilidade em relação às pessoas de fora.

Rita de Cássia Silva, nascida em Florianópolis nos anos 50, mas de origem tradicionalmente gaúcha, diz que em sua família foram mantidos os hábitos, cultura e sotaque gaúcho, a tal ponto que até hoje é questionada quanto a sua origem. Acredita que há sim certa resistência dos novos moradores em aderir aos costumes ilhéus em detrimento dos trazidos de suas cidades.

Procurando em comunidades do Orkut relacionadas ao tema, encontram-se “Ainda vou morar em Floripa”, com 27.116 membros e “Diga não à xenofobia”, com 15.183 membros. Porém, existe um sem número de comunidades “Fora Haole Floripa”, e variantes, como “Fora Haole Joaquina”, todas com uma quantidade baixa de participantes, mas que utilizam vocabulário muito agressivo no seu posicionamento contra turistas.

A xenofobia em Florianópolis está presente em várias discussões. Em uma delas, um não- nativo acredita que o sentimento se dá pelo medo da ocupação desordenada e perda da qualidade de vida por parte dos moradores da cidade. Outro entrevistado diz que o nome do movimento não deveria ser “Fora Haole”, mas sim “Fora turista mal educado e folgado”, pois acredita que é a atitude do turista que incomoda os moradores locais, e não o fato de virem de outras cidades.

Florianópolis foi considerada uma das cidades turísticas mais procuradas neste verão, e é natural que as pessoas queiram morar aqui depois das férias. Aron Lobo, de 20 anos, diz que há certo receio dos moradores em relação à perda da cultura local, e a destruição do ambiente.

Bruno Bastos Venâncio, professor de Judô, natural de Florianópolis, diz não ter nada contra turistas desde que eles voltem para suas cidades de origem após as férias. Acredita que a cidade está um caos, por causa do crescimento desordenado, e que já não há espaço para mais ninguém. Ressalta também que “manézinho já é coisa rara por aqui”.

* Para deixar claro, este post não representa a minha opinião, ok? Foi uma matéria escrita para o Zero, Jornal Laboratório do Jornalismo da UFSC. Além disso, nasci no Mato Grosso do Sul, portanto sou "haole" também;

4 comentários:

  1. Vocês precisam abrir a cabeça. Florianópolis não é propriedade dos manezinhos. É de qualquer brasileiro. Pessoas de fora têm hábitos culturais diferentes, códigos distintos.
    As favelas cariocas cresceram por causa da ida de nordestinos para o Rio. Nem por isso vejo carioca querendo a saída dos nordestinos, nunca os vi atribuindo a violência das favelas ao povo nordestino. E aí? Usem a cabeça...

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  2. Falta de cultura , de educación , respeto ,e preparo para receber os turistas , agora para receber dinhero e cobrar caro ser grossero e prevalecidos !!...naõ falta empenho e dedicação!! e a palavra e muito mal aplicada !!..o eucalipto e o pinhero son nativos da ilha?..que nativos ?...aqueles que esculpieron a arte rupestre ?

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  3. ñ conheço Floripa,embora saiba atravès de fotos
    tratar-se de um belo lugar.se o problema é em função de maus hábitos trazidos de fora,acho que olhar para si mesmo,pode leva-los a seguinte reflexão.se estes turistas inconveniêntes prejudicam imagine quem se criou no proprio local.sempre questiono aqueles que se instalam,até que me provem o contrário, em regiões litorâneas,afinal esses são os primeiros a depreciar o local residido.

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  4. Sou natural do interior de SP e moro em Floripa há 16 anos, namoro com manezinho da ilha, minha melhor amiga de infância é daqui também. Creio que há pessoas agradáveis e desagradáveis em TODO LUGAR mas, acredito que isso não é colocado dentro da cabeça vazia de certos manés da ilha. Sabe porque? Porque eles nunca tiveram o prazer de viajar, aliás- quem conhece aqui sabe, nunca se quer passaram da ponte até o Estreito, nunca conheceram outras praias, nunca foram a outro estado, nunca pararam para conversar educadamente, nunca prestaram uma assistência há ninguém, garanto que a maioria é ignorante de nascença e jamais prestaram para mudar a idéia de que todos somos seres humanos, todos merecem o respeito e de que, nada, NADA MESMO, adianta ficar com essas campanhas frouxas de mandar as pessoas de fora embora. É raro colega, eles fazerem amizade com outras pessoas que não seja da própria ilha. Afinal, mereciam serem catequizados. Isso não é gente por favor, para ter tamanha atitude. Lamentável e quem sai perdendo são eles e outra, feche a ponte, pois o alimento, a roupa que vestem, várias matérias-primas são da segunda maior cidade do mundo, já que eles não gostam de gente de fora que não desfrute do suor dos haolés! Desculpa a minha revolta mas é isso, não estou generalizando espero que tenha me entendido mas, isso é para aqueles sem educação que pensam e tratam as pessoas assim, os manés que realmente fazem jus ao nome. Só mais uma coisa, alegam que o povo de fora vem aqui pra sujar, desculpa mas, em toda minha vida o que mais vi foi gente porca como alguns deles são, é que na verdade como disse antes, são sem educação desde sempre. Obrigada :)

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