sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Freakonomics - Economia para curiosos


“O moralismo representa a forma como as pessoas gostariam que o mundo funcionasse, enquanto a economia representa a forma como ele realmente funciona. A economia é, acima de tudo, uma ciência feita para medir. Possui um conjunto incrivelmente eficiente e flexível de ferramentas, que também podem ser utilizadas com relação a temas mais...ora, mais interessantes” (Pág. 15).

Logo nas primeiras páginas descobre-se que este não é um livro comum de economia. Temas mais interessantes? O que os autores quiseram dizer com isso? Quiseram dizer ao leitor que iriam abordar assuntos comuns, e até mesmo batidos, mas por meio de ângulos até então inexplorados, o que sacudiria a certeza que tínhamos adquirido do senso comum por meio de osmose. Freakonomics é isso, economia excêntrica para a tradutora, e bizarra, se traduzida com outra palavra.

As histórias contadas no livro não costumam fazer parte das aulas de economia, e segundo o autor, isso se dá pelo fato de que foram utilizadas ferramentas da economia para analisar toda e qualquer idéia de situação excêntrica que viesse a sua mente. Essa é outra justificativa para não haver um tema centralizador no livro, como estamos acostumados. Afinal, qual é a graça de lermos sobre histórias com início, meio e fim, e cujo final podemos prever?

Steven Levitt recebeu recentemente a medalha John Bates Clark, concedida ao melhor economista americano que tenha menos de 40 anos. Apesar disso, não se considera economista, e diz não gostar de matemática. É neste ponto em que o autor nos convence de que existe sim um lado da economia diferente do que estamos acostumados. E esta é uma idéia que se transforma em verdade ao longo do livro.

Já Stephen Dubner, co-autor da publicação, trabalha para o The New York Times e escreve sobre temas que variam de esportes (tema do seu livro Confessions of a Hero-Worshiper) a política. Pelos artigos que escreve, demonstra ser alguém tão curioso como Levitt, o que resultou na parceria para produzir Freakonomics.

No livro, cada assunto é relacionado com outro totalmente diferente (“ o quê os professores têm em comum com os lutadores de sumô?”), pelo menos para mentes leigas e despreparadas. Levitt trata dos mais variados assuntos, e mostra que eles têm algo em comum. O objetivo é mostrar que o mundo é composto por situações entrelaçadas, que influenciam umas as outras, mesmo que ninguém se dê conta.

Um exemplo dado é o caso Roe x Wade, processo que levou à liberação do aborto nos Estados Unidos no início dos anos 80, e que, segundo o autor, influenciou a queda da criminalidade no país, lá pela metade da década seguinte. Porém, nas pesquisas de causa e efeito, esta possibilidade de causa não foi citada nem uma vez. As situações para as quais o senso comum apontava eram: Estratégias policiais inovadoras, crescente confiança nas prisões, leis mais rígidas de controle de armas, número maior de policiais e melhora na situação econômica.

Para o autor, nenhuma destas justificava realmente a queda de mais de 40% no índice de criminalidade em apenas poucos anos. Para comprovar sua teoria, comparou o número de crimes violentos entre estados em que o aborto era permitido e outros em que não o era. As taxas de diminuição drástica deram - se naqueles estados em que o aborto era legalizado. O mais interessante, porém, é que o autor não traz seus resultados como verdades absolutas, e nem entra na parte moral da questão. Ele deixa bem claro que em nenhum momento aprova ou incentiva o aborto como forma de combater a violência. Ele só mostra que esta é uma possível justificativa para o que ocorreu nos Estados Unidos na década de 90.

Chega-se ao final de cada capítulo com uma visão diferente da que tinha no início. Se não mudou de idéia, passou a analisar a situação com outros olhos, como se alguém tivesse tirado uma venda do seu rosto, e agora pudesse enxergar várias outras possibilidades que até então não tinha sequer parado pra pensar.

Em outro momento, é analisado até que ponto o nome influencia em quem a pessoa vai se tornar. Compara os dois irmão, Winner e Loser Lane. Se o primeiro com este nome não tinha como dar errado, o que esperar do segundo? Em geral, os pais escolhem o nome de seus filhos de acordo com as expectativas que tem daquela criança. O que esperam que ela seja, ou melhor, quem esperam que ela seja.

O nome tem toda uma mágica envolvida, e pode ser escolhido inspirado por alguém famoso, ou importante e determina o que será daquela criança no futuro, certo? Não. Errado. O nome nada mais é que um indicador da origem da criança e da escolaridade de seus pais. Mostra que o nome que a criança carrega não mostra quem ela será no futuro, mas mostra de onde ela veio, como um marca de origem.

Por exemplo: Alguém é pobre porque tem o nome escrito errado, ou tem o nome escrito errado porque é pobre? Quantos nomes importados de língua estrangeira que são escritos de maneira totalmente diferente do original? Braian ao invés de Brian? Estefani ao invés de Stephanie? Ambos os exemplos mostram como o nome e a sua grafia são indicativos da classe social a que pertence à criança e também a escolaridade dos pais.

Voltando a Winner e Loser, o primeiro, aos 40 anos, tem uma extensa ficha criminal, sendo quase 40 prisões por assalto, assassinato, violência doméstica, invasão e resistência à prisão. Já o segundo, formou-se na Universidade Lafayette na Pensilvânia, entrou para o Departamento de Polícia e chegou a Sargento. Para o autor, o pai deve ter confundido o destino dos dois quando os batizou, senão jamais escolheria estes nomes.

Estes são apenas exemplos pontuais da riqueza do livro Freakonomics, que nos faz pensar, como o subtítulo diz, no lado oculto e inesperado de tudo que nos afeta.

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